Quando pensamos nos sentidos falamos de cinco principais: audição, visão, paladar / gustação, olfação e tato. Esses sentidos foram descritos lá na Grécia antiga por Aristóteles e foram bem estudados e compreendidos ao longo dos séculos. Entretanto existe um sexto sentido que, apensar de não ser “novo”, ainda não foi muito bem estudado quanto aos outros. A partir do século XII começou a surgir mais perguntas sobre esse “sexto sentido”. Não estou falando de intuição, mas sim sobre a propriocepção.
A propriocepção bem do latim proprius , próprio, que reflete a percepção de si próprio. Essa auto percepção refere-se à habilidade de orientação e posicionamento do corpo no espaço, assim como o de movimento do corpo no espaço. Essa percepção é necessária para que possamos responder as demandas a nossa volta que mudam muito rápido.
Equilibra-se é um exemplo de tarefa na qual precisamos saber o posicionamento do corpo para mover ou manter a posição
Originalmente a propriocepção foi descrita como a sensação do músculo e havia duas linhas de pensamento que guiavam essa concepção: uma linha focava que as sensações musculares eram originadas no cérebro, a sensação da invervação, uma visão dos fisiologistas que falavam sobre “muskelsinn” ; a outra linha baseava-se em um mecanismo periférico no qual seria necessário um receptor para levar a informação do movimento e posicionamento do membro para o cérebro. A segunda linha de pensamento ganhou força com Charles Sherrington, fisiologista.
Sherrington distinguiu as sensações internas e externas de um indivíduo, classificando os receptores capazes de traduzir um dos estímulos sensoriais externos, denominados de receptores exteceptivos (ex. receptores mecânicos, de temperatura, etc), receptores de estímulos internos, receptores viscerais / interoceptores (ex. receptores mecânicos que observar a distensão da bexiga) e receptores de estímulos internos do posicionamento do corpo, os receptores proprioceptivos / proprioceptores localizados nos músculos, tendões e articulações que informam ao cérebro do posicionamento do corpo no espaço. Assim a propriocepção pode ser mais comumente definida como a percepção de uma articulação, músculo e tendão, graças aos receptores localizados nesses tecidos, que contribui para a percepção de um indivíduo.
Exemplo do fuso muscular
O fuso muscular, receptor proprioceptivo localizado nos músculos, é responsável pelo reflexo de estiramento e também contribuiu para a percepção consciente do posicionamento do membro nbo espaço. Assim esse tipo de proprioceptor contribuiu para a sensação consciente e para inconsciente, no reflexo automático. Esse receptor está envolvido também nos pontos gatilhos (leia nossa matéria sobre esse assunto)
Entretanto, a propriocepção também foi usada para definir a sensação de movimento, sensação de força e esforço. É encontrado também outro termo para definir a sensação de movimento de um membro, que seria a cinestesia. As inconsistências nas definições atrapalham a compreensão mais ampla desse tipo de modalidade sensorial.
Vamos utilizar aqui a propriocepção como uma parte do sistema somatosensorial (responsável por sentir o corpo) que inclui aspectos internos e externos.
A propriocepção é importante para ajudar no planejamento motor, afinal só é possível mexer aquilo que sabe onde está localizado. A manutenção da postura, dentro de um ônibus, por exemplo, só é possível graças as informações enviadas dos proprioceptores. Assim há um mecanismo de antecipação, preparação e resposta ao planejamento que depende da integração que acontece no encéfalo para compreender o posicionamento do corpo no espaço, assim como uma adaptação as mudanças que podem surgir a partir da execução de uma tarefa.
A propriocepção pode ser afetada por:
– envelhecimento e quedas associadas ao envelhecimento
– Doenças neurológicas (neuropatias, AVE, distonias focais, Parkinson)
– Lesões agudas (torções / entorses)
– Lesões crônicas (como dor lombar crônica e instabilidade de ombro)
A avaliação da propriocepção costuma focar na percepção estática de uma parte do corpo no espaço ou da percepção de movimento. Isso ajuda a criar um pouco mais de confusão já que as medições são feitas em aspectos diferentes da propriocepção (uma coisa é observar o movimento passivo, outra é a direção do movimento e outra é perceber o que se move); medições de diferentes articulações e com equipamentos e valores diferentes. As diferentes formas de avaliar a propriocepção auxilia na compreensão das diferentes definições que existe.
Quer saber mais sobre a propriocepção? Assista nosso Podcast Movemente.
Que tal uma prática? Vamos explorar um pouco da sua propriocepção através de uma vivência guiada:
Como você se sente depois dessa vivência?
Esperamos que você tenha gostado desse texto! Se quiser compartilhar como foi a vivência ficaremos felizes em acompanhar!
Referências
HILLIER, Susan; IMMINK, Maarten; THEWLIS, Dominic. Assessing Proprioception: A Systematic Review of Possibilities. Neurorehabilitation and Neural Repair, v. 29, n. 10, p. 933–949, 1 nov. 2015. https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1545968315573055?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub++0pubmed