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Cinesiofobia

Condições musculoesqueléticas dolorosas crônicas, como síndrome patelofemoral, estão, em sua grande maioria, associadas ao medo do movimento. O medo de sentir dor por causa do movimento é o que chamamos de cinesiofobia (“cinesio/ kisneio” : movimento ; “fobia” : medo).

A cinesiofobia é como uma forma mais extrema de medo, irracional e debilitante que faz com que a pessoa se sinta vulnerável à dor da lesão ou até a uma nova lesão. A cinesiofobia parece ser um componente central no processo de desenvolvimento de uma dor aguda para crônica. Infelizmente, bastante comum em diversas patologias como fibromialgia, dor lombar e até mesmo em pessoas com hiperfrouxidão ligamentar.

A dor crônica é uma experiência física e emocional que interfere na capacidade de realizações de tarefas diária e na participação de eventos sociais, o que favorece com um estado de permanência de medo, ansiedade, preocupação e até mesmo raiva. Esses fatores psicossociais (como medo, ansiedade, estresse e depressão) podem levar, manter e até mesmo aumentar a experiência de dor. Falaremos em outro post como a dor crônica pode induzir a um mecanismo de neuroplasticidade no qual seu cérebro aprende a sentir dor, mesmo que não haja mais lesão.

O medo da dor e como você lida com ele pode ser mais debilitante que a dor em si (Waddell, 1993).

O medo da uma nova lesão é um preditor melhor da auto percepção de falta de habilidade do que sinais ou sintomas de severidade da dor (Vlaeyen et al, 1995).

O medo favorece com que seja desenvolvida a síndrome de descondicionamento, a qual pode ser expressa por diminuição de força muscular e alteração da coordenação do movimento. É hipotetizado, também, que a cinesiofobia contribui para a progressão e talvez até para o início de uma fadiga crônica devido às estratégias adotadas para evitar a dor, como o desuso do corpo e diminuição da atividade física geral.

O medo e ansiedade interferem também das experiências de dor futuras uma vez que os mecanismo de inibição estão diminuídos, fazendo com que a sensibilidade à dor seja maior. Assim a cinesiofobia interfere não apenas no momento presente do indivíduo, mas também nas suas experiências dolorosas em seu futuro.

Indivíduos com mais medo e ansiedade tem uma probabilidade maior de entender a dor como um processo de lesão, o que leva a comportamento de evitar o movimento e atividades, catastrofização e hiper vigilância. Indivíduos com menor medo e ansiedade tendem a não interpretar a dor de forma tão negativa, o que favorece com o processo de recuperação e cicatrização

Assim, baseado no modelo de cognitivo de evitar-se o medo a experiência de dor irá desencadear um ciclo que poderá ir para um processo de recuperação, quando a pessoa possui um baixo sistema de medo. No entanto quanto a pessoa entra em um processo de catastrofização, amplia-se o medo do movimento, indo para o lado negativo do ciclo exemplificado na figura abaixo.

Adaptação do Modelo Cognitivo de evitar-se o medo, baseado no artigo de Steven e Linton 2000.
Adaptação do Modelo Cognitivo de evitar-se o medo, baseado no artigo de Steven e Linton 2000.

A catastrofização é definida como uma distorção cognitiva na qual se antecipa o futuro de uma forma pessimista. Essa distorção, somado ao sistema de crença do indivíduo (por exemplo: a dor está relacionado a uma punição divida por algum pecado cometido) aumenta o estado de estresse e ansiedade de um indivíduo, fazendo com que ele deixe de frequentar eventos sociais ou que faça tarefas diárias.

Quando a pessoa para de frequentar eventos por conta do medo de se mover, ela entra em um processo de isolamento social cada vez maior que pode favorecer com que se instale um quadro depressivo. A pessoa também passa a manter um estado de hiperviligância interna e externa. Isso significa que uma pequena dor, que não deveria causar nenhum alarde, passa a ter um significado muito maior, seja um corte ou um esbarrão em alguém na rua. Nos casos de cinesiofobia é comum também a alodínia, coisas que normalmente não causam dor, passam a causar.

A catastrofização pode ser exemplificado no desenho de Hanna Barbera com a Hiena Hardy ” Oh, céus, Oh vida, isso não vai dar certo”.

Esse comportamento pode ser aprendido: em algum momento você acreditou que algo não ia dar certo e realmente não deu. No entanto isso gerou uma memória emocional negativa, fazendo com que você acredite que todos os eventos futuros semelhantes terão o mesmo resultado. Sabe aquele ditado, “gato escaldado tem medo de água fria” ? Pois bem. A parte boa é que tudo que aprendemos, é possível desaprender ou, ao menos, aprender de uma forma diferente.

Após uma lesão é comum apresentar medo em maior ou menor grau. Por isso acreditamos que um passo importante do processo de recuperação é, além da tomada de consciência de um comportamento doloroso (evitar tal movimento por medo da dor, “eu não posso me agachar porque sempre que agacho dói”) e a ressignificação do sistema de crença individual (passar a entender a dificuldade como um desafio), a investigação do movimento é fundamental, de forma presente e consciente para ampliar as redes neurais e levar a um novo padrão de aprendizagem motora e comportamental. Mover-se de forma consciente e presente é uma das formas que trabalhamos no MoveAbilities.

Referências

Vlaeyen & Linton, Fear-avoidance and its consequences in chronic musculoskeletal pain: a state of the art,Pain Volume 85, 2000.

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